O livro: “O homem à
procura de si mesmo.” Cujo autor, Rollo May, ficou conhecido como um dos
psicólogos mais lidos do mundo por sua experiência clínica bem sucedida. Ele também
auferiu fama como escritor por sua sensibilidade fora do comum, facilmente
reconhecida em seus textos através da sua simplicidade e clareza de expressão.
Nos tempos da faculdade era
bastante comum ouvir de professores e colegas algum exemplo ou trecho deste livro,
e confesso que na época, o título soou aos meus ouvidos como autoajuda, e este
gênero de leitura nunca esteve entre meus prediletos. Há alguns meses, olhando uma
por uma das prateleiras de uma livraria - coisa que adoro fazer- me deparei com
ele, o tal livro, e resolvi leva-lo e descobrir o que havia de tão especial ali
dentro e inserir minha própria opinião.
A temática principal do livro
é: a solidão e ansiedade do homem moderno, que inclusive é título do primeiro
capítulo, implicando a ideia de que este homem vem enfrentando de forma aguda
as problemáticas das mais variadas incertezas acrescidas pela atual sociedade
em processo de transformação.
Com base nos
comportamentos expositivos cada vez mais comuns nas redes sociais, onde ser
visto e validado é garantia de ser amado e aceito, a solidão, liberdade de expressão,
bem como a confissão de fragilidade inerente a todos seres humanos, na maioria
das vezes perdem espaço. Ações ligadas à esses exemplos, podem oferecer ameaça à
imagem saudável, bonita forte e bem sucedida que a vaidade social exige. O que pode
acontecer diante dessa dinâmica, é que temerosos pela desaprovação, os indivíduos
tendem à entrada no conformismo, se tornando num caminho sem saída.
Não anseio dizer que
devemos socializar nossos problemas virtualmente, muito menos deixar de participarmos
ativamente das redes sociais, e sim, propor uma reflexão quanto ao que decidimos
deixar de ver a respeito do que nos acontece fora delas e como estamos lidando
com nossos verdadeiros sentimentos e questões perturbadoras.
De uma forma bem sincera
e esclarecida, o autor aventura-se mostrar que por medo da solidão da autoconsciência,
continuamos a viver embutidos numa conformidade automática mecanizada e
repetitiva percebida nos diversos setores e atuações das nossas vidas. A autoconsciência
está no centro do processo de realização das potencialidades que fazem do ser
humano uma pessoa “... ela constitui os rudimentos da capacidade de amar ao
próximo, ter sensibilidade ética, considerar a verdade, criar a beleza,
dedicar-se a ideias e morrer por eles, caso necessário.” Pág. 71
A ansiedade surge quando
nos damos conta de que há uma importante questão à qual, não encontramos
resposta: o que o Outro quer de mim? O autor sugere que o caminho para autoconsciência
é percorrido na maior parte do tempo acompanhados de dores, medos e incertezas
causadas pela ansiedade e que como passageiro e facilitador dessa viagem, o
mais recomendado é procurar um analista. Em análise, descobrimos que nossa
demanda é uma questão entre: nós e nosso desejo, e que nada nem ninguém podem
satisfazê-lo.
“É verdade que a ansiedade neurótica e a
solidão podem e devem ser vencidas: a coragem necessária para enfrenta-las
reside em tomar medidas para obter ajuda profissional.” Pág. 183
Da infância para
maturidade, a coragem é virtude indispensável para cruzar o abismo do não saber
de si. A escravidão do medo de agir segundo suas convicções se sobrepõe à coragem
de lidar com o risco de ser rejeitado pelo grupo. Segundo o autor esse grupo ou
massa social, simbolizam o útero materno – e tornar-se uma pessoa independente
é como sentir as dores do próprio renascimento.
Viver refém das
expectativas dos outros é uma forma de alcançar admiração e elogios, neste
caso, vaidade e narcisismo são inimigos da coragem. Agradar aos outros é o
caminho oposto à própria coragem e consequentemente de desenvolver as próprias
aptidões e torna-se mais livre e responsável. “É coragem para ser e confiar em si mesmo,
apesar do fato de ser finito: significa agir, amar, pensar, criar, embora
sabendo que não se possui a resposta definitiva e que talvez esteja errado.”
Pág. 194
A liberdade não aparece
como num passe de mágica, ela é conquistada gradativamente, e basicamente, para
que isso aconteça é necessário escolher a nós mesmos como provedores, assumindo
ainda, responsabilidade por nossa própria existência. Aqui, não importar a
época em que vivemos, nem tampouco nossa idade, o que realmente importa são nossas
capacidades de alcançar a liberdade interior e viver com integridade.